TRABAJO DE REVISIÓN
Aspectos críticos do abuso de hormônios
protéicos no exercício e no esporte: atualização.
Critical aspects of peptide hormone abuse in exercise and
sports: an update.
Carlos Kusano Bucalen Ferrari
Revista Facultad de Ciencias Medicas 2013; 70(3):153-162
Biomedical Nutritional and
Epidemiologic Research Group (BIONUTRE),
Campus Universitário do Araguaia, Universidade Federal de
Mato Grosso (UFMT).
E-mail:
ferrariphd@yahoo.com.br
Introduçäo
A busca desenfreada para extrapolar os
limites físicos e, quem sabe, vencer uma competição ou mesmo
conseguir um corpo “perfeito” têm levado milhares de jovens,
especialmente homens, do mundo todo, ao uso de substâncias
proibidas. Tavares1, citando a Conferência
Mundial sobre Doping no Esporte (1999), define doping como
“o uso de um artifício, substância ou método, potencialmente
perigoso para a saúde do atleta e/ou capaz de aumentar sua
performance, ou a presença no corpo do atleta de um
substância ou a constatação de um método presente na lista
anexa ao Código do Movimento Olímpico Anti-Doping. Deste
modo, é imperativo o caráter anti-ético, ilegal e
prejudicial à saúde do uso de substâncias proibidas no
exercício e esporte, conforme as determinações da Agência
Mundial Anti-Doping (World Anti-Doping Agency, WADA,
www.wada-ama.org),
da Confederação Brasileira de Orientação (CBO,
www.cbo.org.br)
e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB,
www.cob.org.br).
Mesmo assim, o uso de substâncias proibidas,
especialmente hormônios, continua muito difundido em nosso
meio, principalmente em academias de ginástica e musculação.
Esse artigo tem como objetivo informar e educar os
estudantes, profissionais de educação física e da saúde e o
público em geral sobre os mecanismos de ação, efeitos e os
riscos à saúde causados pelo abuso de hormônios protéicos.
Ainda que de modo implícito ou ignorado pelo
usuário, o objetivo do uso de hormônios protéicos é promover
um conjunto de reações bioquímicas de síntese (produção) e
armazenamento de biomoléculas (carboidratos, proteínas,
lipídeos, DNA/RNA) e de energia (ATP/GTP), conhecido como
anabolismo. De modo simples, podemos considerar o
catabolismo como sendo o contrário do anabolismo, ou seja,
são as reações de degradação de macromoléculas e de ATP. O
conjunto formado pela complexa rede de reações bioquímicas
de anabolismo e catabolismo é chamado de metabolismo. Assim,
entende-se por anabolismo muscular o aumento da síntese de
proteínas que compõem as fibras musculares, conhecidas como
proteínas miofibrilares (actina, miosina, titina, etc).2
O exercício físico, hormônios, medicamentos, nutrientes e
outros estímulos induzem o DNA (ácido desoxiribonucleico) a
produzir RNA (ácido ribonucleico) e este, por sua vez,
determina a produção de novas proteínas na célula. O aumento
do anabolismo muscular provoca um incremento no volume das
células musculares, fenômeno conhecido como hipertrofia
muscular.3 Anatomicamente, a hipertrofia muscular
significa aumento do diâmetro ou da secção transversal de um
músculo. Um problema concreto é que nem sempre a hipertrofia
muscular está associada ao aumento das proteínas
miofibrilares, pois pode ocorrer apenas um acúmulo de água
no citoplasma da célula muscular. Considerando as células
musculares, o tipo ideal de molécula (hormônio ou nutriente)
anabólica seria aquela que possa induzir a produção de
proteínas miofibrilares, sem, entretanto, levar à síntese de
proteínas anômalas. Na verdade, grande parte dos estudos
científicos tem demonstrado que substâncias chamadas de
anabólicas geralmente não induzem a síntese de proteínas
miofibrilares, mas apenas aumentam a produção de colágeno
(principal proteína do tecido conjuntivo que faz parte dos
tecidos de sustentação do nosso corpo) e/ou provocam o
acúmulo intracelular de água, conhecido também como
degeneração hidrópica ou edema celular.4 O edema
celular, muito comum na musculatura cardíaca (miocárdio),
causa palidez e aumento do peso do órgão, estando associado
à isquemia, ou seja, redução do fluxo sangüíneo, e anóxia,
ou falta de oxigênio, nas células do tecido e/ou órgão
afetado.5
Objetivo
O objetivo deste trabalho foi descrever e
avaliar criticamente o uso e abuso dos principais hormônios
protéicos utilizados no exercício e esporte de acordo com
relatos clínicos, estudo controlados e experimentais
publicados na literatura científica.
Insulina
A insulina é um hormônio protéico,
constituído por 65 aminoácidos (51 na forma ativa),
sintetizado pelas células beta das ilhotas
pancreáticas, e que tem papel crucial no transporte da
glicose sanguínea para o interior das nossas células, bem
como no estimulo à síntese de glicogênio, nossa principal
reserva de carboidratos nos músculos esqueléticos e no
fígado. Estima-se que nosso organismo apresente cerca de 72g
de glicogênio hepático e 245g de glicogênio muscular, sendo
a insulina um excelente anabólico, pois estimula a síntese
protéica e inibe o catabolismo muscular.2
O mecanismo de ação da insulina e do IGF-1
(fator de crescimento insulínico) decorre por meio da
proteína transmembrana tirosina quinase. Na membrana
citoplasmática das células sensíveis à insulina (músculo,
neurônios, adipócitos, etc), há receptores para este
hormônio. O receptor é um tetrâmero, apresentando duas
subunidades α e duas β. A insulina se liga às subunidades α,
ativando a tirosina quinase na subunidade β, que recebe
fósforo do ATP, tornando-se fosforilada. A tirosina quinase
fosforila várias proteínas que irão ter ação na transcrição
nuclear, ou seja, na ativação de genes para a síntese
proteica. O complexo insulina-receptor é internalizado por
endocitose para que a insulina seja metabolizada. Ademais, a
insulina também pode se ligar ao retículo endoplasmático, ao
aparelho de Golgi e atua diretamente no núcleo induzindo a
transcrição gênica via IGF-1 e IGF-2.6,7
O uso de insulina em competições esportivas
foi banido pelo Comitê Olímpico Internacional em 1998, uma
vez que este hormônio proteico aumenta a concentração
intracelular de glicose, contribuindo para o anabolismo
muscular e para a síntese e armazenamento de glicogênio o
que pode trazer benefícios para o desempenho físico de
atletas.2,8 Além disso, embora não haja relatos
na literatura médica brasileira, sabe-se que existe o uso de
insulina em academias de musculação e clínicas de estética.
Um estudo no Reino Unido, com amostra de pessoas
freqüentadoras de uma academia, mostrou que 70% utilizaram
esteróides anabolizantes, sendo que houve aumento de 14% e
24% nos usos de insulina e de GH, respectivamente.9
Neste sentido, indivíduos que fizerem uso de
insulina por período prolongado têm risco de desenvolver
insuficiência pancreática e diabetes mellitus tipo 2,
isto porque o excesso de insulina é um sinal inibidor da
secreção insulínica pelo pâncreas de acordo com o principio
do feedback negativo. Como não há estudos neste
sentido, não se sabe ao certo se ocorreria resistência à
ação da insulina, um defeito em que os receptores não
acoplam o hormônio devido ao excesso deste, em pessoas que
aplicaram doses suprafisiológicas do hormônio durante vários
meses. Porém, em indivíduos que apresentam resistência à
insulina (estado pré-diabético) este hormônio aumenta
excessivamente a ação do sistema
renina-angiotensina-aldosterona, promovendo intensa
reabsorção renal de sódio e, portanto, aumento de água e da
volemia, podendo contribuir para a hipertensão.10
Além, disso, a hiperinsulinemia crônica induz a liberação de
glicocorticóides que exercem feedback negativo sob o
pâncreas inibindo a secreção de insulina.11
Devido a sua ação, a insulina pode ter como efeito a
hipoglicemia. Seu excesso pode induzir hipoglicemia com
graves conseqüências. Elkin et al.12
relataram o caso de um fisiculturista de apenas 21 anos que
desenvolveu dano cerebral grave (devido à hipoglicemia) pelo
uso de insulina injetável. Ademais, estudo de Boileau et
al.13 reportou a ocorrência de 332 casos
recorrentes de coma hipoglicêmico por erros na aplicação das
doses do hormônio. Assim, a aplicação de hormônios deve ser
monitorada por profissional de saúde após a prescrição pelo
medico, pois constitui risco à saúde humana.
Hormonio dr crescimiento (GH) ou
somatotrofina
Trata-se de um hormônio protéico, constituído
por 191 aminoácidos formando uma única cadeia polipeptídica,
que é sintetizado, armazenado e secretado pelas células
somatotróficas das porções laterais da glândula
adenohipófise no Sistema Nervoso Central.
Secretado pela hipófise anterior o GH tem
importante efeito sob o crescimento físico da criança.
Muitos casos em que a criança não cresce adequadamente é
porque há insuficiência na secreção de GH. Ao contrário, no
idoso ocorre diminuição progressiva do GH o que explica em
parte a redução do tamanho das pessoas nesta fase da vida.
Diversos fatores diminuem a produção de GH,
como o hormônio cortisol, os ácidos graxos livres, a
glicose, o estresse psicológico e distúrbios do sono14.
Por outro lado, o glucagon, a hipoglicemia, o jejum, os
exercícios físicos, o sono, a concentração sanguínea de
androgênios e estrogênios, bem como o aumento da
concentração sanguínea de aminoácidos são fatores que
estimulam a produção do GH14.
Dentre os efeitos fisiológicos do GH,
podemos citar7,14:
·
Estimulo à lipólise (degradação de gordura
dos adipócitos ou células de gordura);
·
Formação de glicogênio no fígado e nos
músculos;
·
Diminuição da glicólise;
·
Aumento da produção de colágeno.
O GH parece não aumentar a massa muscular
Um dos maiores mitos é o uso de GH na
musculação para fins de hipertrofia. O GH não aumenta a
produção de actina e miosina, nem a força muscular15.
Um estudo clínico, ou seja, de intervenção no ser humano,
duplo cego (nem o pesquisador, tampouco o paciente sabe se
estão recebendo a droga ou o placebo – substância sem
efeito) e controlado (apresenta grupo controle que recebe o
placebo e grupos experimentais que recebem a droga) reportou
que a administração de doses acima dos níveis normais (doses
suprafisiológicas) de GH aumentou em apenas 2,7% o peso
corporal e em 5,3% a massa livre de gordura (contem água e
músculo), reduzindo, porém, em 6,6% a gordura corporal.
Todavia, os autores ressaltam que este aumento de massa
livre de gordura ocorreu devido ao aumento da concentração
intracelular de água (9,6%) e não por causa de maior síntese
proteica muscular.16,17. Diversos outros estudos
revisados por Doessing e Kjaer
18
demonstraram que o GH tem efeito modesto na síntese de
proteínas miofibrilares, mas aumenta substancialmente a
produção de colágeno no tecido conjuntivo.
Como toda substância pode ter efeitos
prejudiciais à saúde, o excesso de GH pode ocasionar
(Tabela 1).
O uso de GH em atletas treinados aumentou a
glicemia, os níveis de glicerol e de lactato no sangue,
comprometendo o desempenho físico na bicicleta ergométrica.23
Cuidado: O
GH pode causar hipertensão!
Fisiculturistas e praticantes de
musculação podem apresentar excesso de GH que provoca maior
ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona
20,24, aumentando a reabsorção renal de sódio e água,
ou seja, a retenção de líquidos 17, o que resulta
em aumento do volume sanguíneo (volemia), podendo contribuir
decisivamente para gênese da hipertensão arterial. A
ativação do sistema renina-angiotensina-aldosterona também
induz a vasoconstrição que eleva a pressão arterial.
O excesso de GH, que ocorre na
acromegalia (síndrome provocada pela produção excessiva de
GH no adulto), também aumenta a volemia pela diminuição do
peptídeo natriurético atrial, hormônio que reduz a retenção
de sódio e líquidos. O excesso de GH pode induzir a apnéia
obstrutiva do sono e estimular o sistema nervoso autônomo
simpático (adrenalina/noradrenalina), causando também
hipertensão 25. Por fim, o excesso de GH causa
remodelamento ou espessamento da parede arterial,
hiperinsulinemia e disfunção endotelial que aumentam a
resistência vascular periférica. Isto significa um aumento
do tônus vascular, ou seja, o vaso sanguíneo tornou-se mais
espesso e perdeu sua elasticidade e por isso o sangue
precisa exercer maior pressão para sua passagem. O resultado
é também hipertensão 25. Um dos principais
problemas de pacientes hipertensos é o aparecimento de
hipertrofia ou espessamento da parede ventricular do
coração, especialmente do lado esquerdo, que determina
insuficiência cardíaca congestiva. Recentemente, em
pacientes hipertensos foi constatada uma associação positiva
entre hipertrofia do ventrículo esquerdo, hipertensão
arterial e níveis sanguíneos de GH. 26
Praticar
exercícios físicos e dormir bem: tão simples assim?
Deste modo fica evidente que o uso do
hormônio só pode ser realizado sob estrito controle do seu
médico. Por isso, é importante ter sempre uma boa noite de
sono, pois o GH é secretado em picos durante a madrugada e
praticar exercícios físicos regularmente para evitar o
acúmulo de gordura visceral (abdominal) e o sedentarismo,
fatores que diminuem a síntese de GH.27
Segundo WIDEMAN et al.28
há uma curva de dose-resposta entre a síntese de GH e a
intensidade do exercício físico, ou seja, quanto maior a
intensidade do exercício, maior a produção do hormônio.
Comparando exercícios aeróbicos com a combinação destes
exercícios e os exercícios resistidos, a combinação foi mais
eficaz em aumentar os níveis de GH pós-exercício.29
Evidentemente que há um limite e não se deve exagerar nos
exercícios, pois efeitos contrários podem ocorrer.
Recentemente, o uso de elevadas doses de GH reduziram a
gordura corporal e aumentaram a capacidade de “sprint” em
atletas.18 Porém, outros estudos recentes
demonstraram que o uso suprafisiológico de GH em atletas
masculinos reduziu a produção de hôrmonio estimulante da
tireóide (TSH), isto significa que o uso de GH que pode
causar hipotireoidismo.30
IGF-1 e Câncer: o elo entre GH e Insulina
O GH e a insulina, como outros hormônios
peptídicos, geralmente não conseguem entrar na célula;
assim, suas ações dependem de um intermediário – o fator de
crescimento insulínico-1 (IGF-1) ou somatomedina que vai
agir no núcleo da célula transmitindo a mensagem química
destes hormônios. De acordo com Machado31, o IGF-1
é um dos principais fatores responsáveis pela síntese
protéica e transporte de aminoácidos e da glicose para os
músculos e o fígado.
Os efeitos da ação do GH e da insulina,
via IGF-1, compreendem aumento da proliferação de adipócitos
(células gordurosas), o envelhecimento celular e corporal,
inibição da morte de células cancerígenas e proliferação das
mesmas.6,32,33 Como conseqüência aumenta o risco
de tumores malignos de cólon (intestino), reto, pulmão,
pâncreas, endométrio (útero), mama e próstata.15,32,34
Ressalta-se que novas regulações restritivas no
esporte, com melhores métodos de detecção química e punições
aos atletas devem ser adotadas para evitar o “doping”
genético que já é praticado em relação à produção de IGF-1 e
de eritropoitina.35
Eritropoetina (EPO)
Produzida nos rins, a eritropoetina é uma
glicoproteína com peso molecular de 34KD que apresenta
quatro sítios de glicosilação para ligação dos açúcares.
Este hormônio é essencial para a produção e renovação dos
eritrócitos sanguíneos, bem como das células musculares
esqueléticas.36
Ademais, a eritropoetina aumenta a fosforilação oxidativa
mitocondrial, assim como a atividade do sistema
transportador de elétrons de células musculares o que
aumenta o metabolismo aeróbico.37 Seu uso
terapêutico se limita a pacientes com anemia, anemia devido
ao câncer e na insuficiência renal. Porém, a EPO têm sido
detectada como doping em atletas de ciclismo, triatlo
e maratona, uma vez que aumenta o número de eritrócitos e,
portanto, de hemoglobina, aumentando o consumo máximo de
oxigênio (VO2Max), ou seja, a capacidade
aeróbica, o que significa maior desempenho físico.38
A EPO aumenta significativamente a quantidade de eritrócitos
jovens, além de reduzir os danos causados por radicais
livres do oxigênio e melhora o humor da pessoa.39
A administração de EPO também aumentou a capacidade física
de pacientes com insuficiência cardíaca congestiva.40
Embora não haja dados na literatura sabe-se que seu uso
indevido está se difundido em praticantes de musculação. A
EPO é capaz de induzir a produção do fator quimiotático de
monócitos-1 (MCP-1), o que aumenta o processo inflamatório
na parede arterial, e de reduzir a capacidade de
vasodilatação arterial pela diminuição da produção de óxido
nítrico.41 A diminuição do ON compromete a
capacidade de vasodilatação arterial, provocando a chamada
disfunção endotelial42 que é um fator importante
na patogenia tanto da aterosclerose quanto da trombose, pois
a deficiência de ON aumenta a ativação de plaquetas, células
envolvidas nos processos aterotrombóticos.43
Aliás, já há relatos na literatura científica associando o
uso de EPO com o aumento do risco de estreitamento das
artérias (estenose) e de trombose.44 A propagação
da migração de macrófagos também é fator essencial na
patogenia da aterosclerose.45 Além da
aterosclerose e da trombose, a EPO em excesso pode provocar
a hipertensão pulmonar (cor pulmonale) e hipertensão
sistêmica, neste caso em pacientes com insuficiência renal,
especialmente com uremia (acúmulo de uréia no sangue), uma
vez que o hormônio induz a produção de susbstâncias
vasoconstrictoras, como a endotelina-1 e a tromboxana-A2.46,47
Recentemente, evidenciou-se que a eritropoetina diminui a
reabsorção nos túbulos proximais, reduzindo
significativamente a taxa de filtração glomerular em
humanos.48 Um dos principais efeitos colaterais
do tratamento de anemia com EPO é a hipertensão arterial
sistêmica ou pulmonar.49 Num interessante estudo
de manipulação gênica, com camundongos que produziam excesso
de EPO, houve excesso da produção de eritrócitos e
degeneração muscular, renal, hepática e de neurônios.50
Hormônios da tireóide
Localizada na base do pescoço, a glândula
tireóide produz dois hormônios fisiologicamente ativos, a
triiodotironina (T3) e a tetraiodotironina (T4)
ou tiroxina.7 Como estes hormônios aumentam o
metabolismo energético, há maior degradação de gordura e por
isso induzem ao emagrecimento. Por causa disso, seu uso
indiscriminado, sem acompanhamento médico, tem sido
difundido entre praticantes de exercícios físicos e pessoas
que querem ter um corpo “saudável” e mais próximo da
“perfeição”. Entretanto, seu uso não está isento de diversos
efeitos colaterais. T3 e T4 provocam
catabolismo energético, levando ao aumento da temperatura
corporal, sudorese excessiva, tremor, fraqueza muscular,
aumento do débito ou trabalho cardíaco e dificuldades
respiratórias. Embora aumente o débito cardíaco, a tiroxina
induz a morte cellular programada (apoptose) e reduz a
contratilidade de miocardiócitos.51 Além disso, a
tiroxina promove perda de massa muscular19 e
aumenta a produção de radicais livres e a peroxidação de
lipídios o que pode levar à degeneração de testículos e do
fígado.52
Layzer & Goldfiled53 reportaram
três casos de paralisia dos membros inferiores provocada
pelo uso de pílulas para emagrecer.
Assim como os outros hormônios, o controle da
secreção de hormônios tireoidianos depende do mecanismo de
feedback negativo. A glândula hipófise produz o
hormônio estimulante da tireóide (TSH) ou tireotrofina que
ativa a tireóide para a produção de seus hormônios. Porém,
concentrações excessivas de T3 e T4
induzem uma supressão do TSH na hipófise e também uma
supressão direta sob a própria glândula tireóide. Como
resultado, ocorre a tireotoxicose ou intoxicação da tireóide
em que o paciente apresenta taquicardia, perda de peso,
bócio (hipertrofia ou aumento em volume da glândula
tireóide) e paralisia motora com grande perda urinaria de
potássio que resulta em baixa concentração sanguínea do
mesmo (hipocalemia).54,55 O abuso de hormônios
tireoidianos também pode ocasionar falência glandular e
hipotireoidismo, estado em que o paciente apresenta baixo
metabolismo, hipotermia, cansaço físico e dificuldades para
perder peso. Scally & Hodge56 relataram dois
casos de hipotireoidismo provocados pelo abuso de tiratricol,
produto comercial derivado de T3, para fins de
emagrecimento. Do mesmo modo, Pickett57 descreveu
caso clínico de tireotoxicose e hipotireoidismo em paciente
que utilizou L-tiroxina de origem veterinária para
emagrecer. O hipertireoidismo tem sido clinicamente
associado à resistência insulínica e síndrome metabólica.58
Recentemente observou-se que tanto o hipotireoidismo quanto
o hipertireoidismo estão associados a maior risco de
resistência insulínica em pacientes humanos.59
Conclusão
Por mais difícil e custoso que
seja a mudança de hábitos, é imperativo praticar exercícios
físicos, controlar o estresse psicológico e ter uma
alimentação adequada para se melhorar o desempenho físico. O
uso de hormônios protéicos, só deve ser realizado quando
prescrito pelo médico; caso contrário, pode constituir porte
ilegal de substâncias e tráfico de drogas, bem como acarreta
malefícios à saúde.
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